segunda-feira, 23 de julho de 2007

Batatinha Vive na voz de Adriana Moreira


Nascido em Salvador, em 5 de agosto de 1924, sambista e poeta, autor de mais de cem belas músicas, Oscar da Penha, o Batatinha (foto), morreu em 3 de janeiro de 1997 sem que sua obra fosse ouvida por tantos brasileiros quantos seriam necessários para fazer dele um nome popular. Sua genialidade, entretanto, sempre foi reverenciada por grandes nomes da música, que nunca se cansaram de fazer justiça àquele que tinha no canto, impregnado de africanidade, o lamento dos escravos.

A crítica especializada também não se furtou a enaltecer seu jeito melancólico de construir sambas sem perder o bom humor - não fosse ele um admirador de Wilson Batista e Noel Rosa. Foi dele a iniciativa de levar ao samba os sons musicais da capoeira, o que certamente influenciou Baden Powell e Vinícius de Moraes quando eles compuseram seus afro-sambas. Batatinha está para sempre na história da boa música popular contemporânea.
Batatinha é tão bamba quanto bambas foram Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia e Zé Kéti; tão bamba quanto ainda, e graças a Deus, o são Jamelão, Elton Medeiros e Paulinho da Viola.
E agora nos vem Adriana Moreira com um disco-documento. Um CD indispensável para quem deseja conhecer melhor a musicalidade extraordinária de Batatinha: Direito de Sambar - Adriana Moreira canta Batatinha (gravadora CPC-UMES, que tem o maestro Marcus Vinícius de Andrade como diretor artístico) reúne amostras do que há de melhor no trabalho de Oscar da Penha.

Junto a um time de músicos tão experientes quanto talentosos, sob a direção musical do competente arranjador e violonista Edmilson Capelupi, Adriana criou uma obra de referência que desde já se faz necessária a quem deseja saber, ou reavivar na memória, quem é Batatinha. Ela, que sempre o admirou, juntou 14 de suas músicas como quem junta diamantes. Cercada de naipes de cordas e de sopros, ritmada pela bateria da Camisa Verde e Branco do mestre Neno, com nove arranjos de Capelupi, três de Eduardo Gudin e dois de Everson Pessoa, contando com o apoio vocal de um coro misto, Adriana veio com tudo a que tem direito, inclusive sambar e botar na roda quem a ouvir.

Os sambas são feitos para parecerem tristes e, de fato, assim quase sempre soam. Tristeza que provoca arrepio. Agonia que revela sabedoria. Angústia a resultar em beleza. Simplicidade a mostrar que belo é aquilo que nos toca a alma. E Batatinha a ela vai certeiro.
Estão lá em Direito de Sambar - Adriana Moreira canta Batatinha parcerias com J. Luna, nas conhecidas "Hora da Razão" (Se eu deixar de sofrer/ Como é que vai ser/ Para eu me acostumar/ Se tudo é carnaval [...]) e na obra-prima "Diplomacia", cantada em 1964 por Maria Bethânia, no Show Opinião (Meu desespero ninguém vê/ Sou diplomado em matéria de sofrer/ Falsa alegria/ Sorriso de fingimento/ Alguém tem culpa deste meu padecimento [...]). "Espera" traz Ederaldo Gentil; "Jardim Suspenso", Capinam (Meus cabelos brancos/ São sombras/ Que um anjo da noite pintou [...]). "Conselheiro" apresenta Paulo César Pinheiro; "Indecisão", Jairo Simões; "Bolero", Roque Ferreira; e "Rosa Tristeza", Edil Pacheco. Nas outras seis, Batatinha é melodista e letrista - destaque para o pungente "Salve o Presidente", composto, salvo engano, quando do suicídio do presidente Getulio Vargas: (O presidente da escola silenciou/ E lá no morro/ até o samba chorou (...) Houve comício/ Houve traição/ E a escola não vai sair mais não).
Adriana Moreira criou um projeto a partir de um belo sonho, de uma bela idéia realizada bonita e profissionalmente. Sua voz, que às vezes ainda soa tímida, quase insegura, sempre revela a emoção de quem está certa de que soma beleza aos encantos da música criada por Batatinha, gênio - mais um - de uma raça que não se perde, para quem devemos ter olhos e ouvidos abertos, gargantas prontas para repetir o que um dia João Ubaldo, baiano como Batatinha, já exclamou: "Viva o povo brasileiro!"

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa.

3 comentários:

Anônimo disse...

Adriana,
Gostei do seu blog. Gostei mais ainda de encotrá-la na Contemporânea no último sábado de setembro. Valeu mesmo!
Se puder vá prestigiar o Samba de Todos os Tempos no CUCA da UNE aos domingos a partir das 14 hs. O Marquinho Dikuã e os outros compositores da nossa Zona Sul vão estar lá até dezembro. Conte para todo mundo, por favor. Visite o site do dele: www.markinhodikua.com.br e dê notícias para shqueiroz@klabin.com.br.
Muito Obrigado, um enorme abraço e todo sucesso do mundo, que você merece.
Samuel (seu fanzão)

Anônimo disse...

Olha só minha mancada, Adriana:

O site do home é
http://www.marquinhodikua.com.br
e não "markinho" como postei acima.

Mais uma abraço
do Samuka (trpalhão)

Louro disse...

Oi Adriana,
tudo bem?
Lembra do baiano que fez uma "ponte" entre você e a família de Batatinha? Eu participava muito da Lista Samba-Choro, e escrevi um texto sobre Batatinha. Daí veio o motivo do nosso contato. Foi bom reencontrar você por aqui.
Abs e sucesso na carreira!
Lourival Augusto